Às vésperas das eleições presidenciais no Brasil, o professor António Manuel Hespanha, especialista em História Institucional e Jurídica, chegado recentemente ao país para lecionar no curso de Direito do Centro Universitário Internacional Uninter, analisa a política brasileira sob a ótica da política europeia. Para ele, o ciclo de mudanças estruturais que o Brasil vive nos últimos 15 anos está muito longe de estar acabado.
Na visão de Hespanha, o Brasil não está no fim de um ciclo. “Me parece muito forte a ideia de que o Brasil vive um momento de ‘fim de ciclo’ e ‘necessidade de mudança’, mas creio que se tratam de lugares comuns bastante irrefletidos. O Brasil não está no fim de um ciclo, eu diria que está apenas no fim do princípio, a caminho da sua realização generalizada e do seu contínuo aperfeiçoamento”, afirma.
Com relação às campanhas eleitorais, Hespanha orienta a população a ter um olhar mais crítico frente às promessas e aos programas de governo. “A decência eleitoral está se perdendo. Tornou-se banal mentir aos eleitores e, nos princípios democráticos, isto desqualifica completamente os eleitos na base da mentira. É preciso um olhar crítico sobre as promessas eleitorais para perceber as forças reais por trás dos programas”.
Hespanha também fala que a imagem do Brasil na Europa mudou muito ao longo das últimas décadas, embora ainda apresente alguns aspectos negativos. “Há uns 30 anos, o Brasil era visto como um país riquíssimo, mas muito problemático, com desigualdades gritantes, enormes focos de atraso e pobreza, mergulhado em inflação e corrução que atingiam os altos cargos políticos. Hoje, por maiores que ainda sejam os desafios, é indiscutível que essa não é mais a imagem do Brasil, que apresenta uma democracia consolidada, potência econômica emergente, um polo científico e cultural internacionalmente respeitado”, define.
Na opinião do professor, assim como em Portugal, os grandes meios de comunicação social brasileiros ainda são pouco neutros e menos analíticos, construindo a imagem do país para fins eleitorais. Ainda assim, ele acredita que exista uma mobilização social para o progresso. “Creio que no Brasil ainda exista um compromisso, um ativismo social e uma esperança na possibilidade de progredir que a Europa parece estar a perder. Isso é um grande trunfo para um melhor futuro”, finaliza.